As universidades são espaços privilegiados do debate político. Atualmente, esse papel se manifesta no desejo crescente dos estudantes em participar mais ativamente da vida pública. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Sivis, quase metade dos alunos acredita que a prioridade do país deveria ser o aumento da participação popular nas decisões do governo. Esse entusiasmo, no entanto, convive com uma contradição preocupante: apenas 17,6% consideram a proteção da liberdade de expressão como uma prioridade.
Esse dado não pode ser tratado como mera curiosidade estatística. Ele revela uma tensão no imaginário político da juventude: o desejo de “ter voz” nem sempre vem acompanhado do mesmo compromisso em garantir que todas as vozes sejam ouvidas. Essa contradição aparece com maior clareza no cotidiano universitário: a pesquisa do Sivis revela que 42,4% dos estudantes evitam manifestar opiniões políticas em sala de aula, mais de 50% sentem-se relutantes em discordar de professores e 48,9% preferem não se posicionar nas redes sociais quando podem ser identificados. Em ambientes que deveriam estimular o debate plural, o silêncio e a autocensura têm ganhado espaço.
Essa postura não é fruto do acaso. A liberdade de expressão tem sido frequentemente associada à autorização para discursos nocivos e, por isso, relegada a um direito secundário. O problema é que, ao relativizar esse princípio, abre-se caminho para normalizar práticas de censura seletiva e silenciamento por pressão de grupos. Hoje, tais mecanismos podem parecer legítimos, sobretudo quando usados contra adversários políticos. Amanhã, podem ser usados contra aqueles que os defendem.
Consolidar a participação da juventude nas decisões políticas do país exige compreender a liberdade de expressão não como um obstáculo à democracia, mas como sua base mais sólida. O regime democrático só se sustenta quando é ancorado na tolerância, no respeito ao contraditório e na disposição de conviver com ideias que desafiam convicções estabelecidas. Afinal, é no confronto respeitoso de ideias que florescem soluções para um país melhor.
A juventude quer participar, e isso é fundamental. Mas a participação política não pode se restringir à adesão a causas circunstanciais ou a consensos momentâneos. Para que seja consistente, precisa estar apoiada na disposição de conviver com posições divergentes, no respeito ao contraditório e, sobretudo, na defesa firme da liberdade de expressão como princípio estruturante da vida democrática.
Reproduzido da Gazeta do Povo | Leia o conteúdo original
Por Fernanda Trompcynski | Estagiária de pesquisa do Instituto Sivis